A cadeia produtiva do leite no Brasil passou por um 2024 marcado por oscilações nos preços, crescimento da oferta e desafios no custo de produção. De acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, o preço médio do leite captado em dezembro foi de R$ 2,5805/litro, representando uma queda de 2,7% em relação a novembro, mas uma alta significativa de 21% frente ao mesmo período de 2023. No acumulado do ano, o valor médio ficou 1,9% acima do registrado em 2023, em termos reais.
A safra leiteira avançou ao longo do último trimestre, refletindo a oferta sazonal no campo. No entanto, o aumento não ocorreu de maneira uniforme. Enquanto estados como Minas Gerais, São Paulo e Bahia registraram maior captação, as regiões Sul e Goiás apresentaram retração, resultando em uma queda de 1,4% no Índice de Captação de Leite (ICAP-L) entre novembro e dezembro. No ano, porém, a captação cresceu 18,3%, com expectativa de avanço de 2,5% em 2025, totalizando cerca de 25,2 bilhões de litros.
Custo de produção e impacto no setor.
Apesar do aumento na produção, a expansão poderia ter sido maior se não fossem as adversidades climáticas enfrentadas ao longo do ano. Um fator que favoreceu o produtor foi a melhora na relação de troca entre leite e insumos. Em 2024, foram necessários, em média, 25 litros de leite para a compra de uma saca de milho, contra 27 litros em 2023.
Por outro lado, o quarto trimestre trouxe uma escalada nos custos, principalmente com nutrição animal e desvalorização cambial. Em dezembro, o Custo Operacional Efetivo (COE) aumentou 0,21% na média nacional, acumulando alta de 2,88% no ano. Esse cenário pode frear a tendência de queda nos preços do leite cru no início de 2025, já que produtores podem reduzir a oferta diante de margens mais apertadas.
Fonte Cepea da Esalq/USP.
Impacto nos derivados e comércio exterior.
O aumento na produção impactou os estoques de lácteos, pressionando as cotações dos derivados no atacado paulista. O leite UHT recuou 3,16% em dezembro, enquanto o leite em pó fracionado e a muçarela caíram 1,06% e 0,69%, respectivamente.
No comércio exterior, o cenário foi de ajuste. Com a valorização dos produtos lácteos no mercado internacional e a desvalorização do Real, as importações caíram 4,3% em dezembro. No entanto, no acumulado do ano, o Brasil bateu um novo recorde, importando 2,35 bilhões de litros em equivalente leite (Eql), um aumento de 4,4% em relação a 2023. As exportações, por sua vez, cresceram expressivos 24,5%, alcançando 98,74 milhões de litros Eql.
Perspectivas para 2025
O setor lácteo segue atento ao comportamento dos custos de produção e à demanda interna. Com a continuidade da recuperação do consumo e possíveis ajustes na produção devido às margens reduzidas, a tendência para os primeiros meses de 2025 é de estabilização nos preços do leite cru e cautela na importação. A dinâmica cambial e a competitividade do leite brasileiro no mercado externo serão fatores-chave para o desempenho do setor no próximo ano.