Voltamos ao tempo para a data 30 de maio de 1955, para a cidade das chaminés fumegantes. Era um dia especial nesta cidade que já tinha se acostumado a viver no modo incomum.
O seu vigário iria dar a benção na famosa janela de sua casa pela última vez.
Ali, as autoridades esperavam que se encerrasse um ciclo, mas o que aconteceu após definitivamente colocou Tambaú no mapa mundial.
Por conta de sua última benção, a notícia se separou como o vento e a cidade estava repleta de romeiros vindo de todas as partes do Brasil e do mundo, numa época em que o rádio era o principal meio de comunicação, as pessoas se comunicavam pelas cartas e telegramas e a TV ainda engatinhava no país.

Era muita gente que chegava e a cidade não comportava e nem tinha estrutura suficiente para receber os peregrinos. As casas vizinhas começaram a abrir suas portas para auxiliar os romeiros com banheiros e água.
O vigário de Tambaú já não conseguia nem entrar na sua humilde paróquia, as missas eram celebradas ao ar livre, as bençãos na sua janela se tornaram comuns.
Enquanto o povo se exprimia tentando chegar mais perto da janela, aviões teco-teco cruzavam os céus de Tambaú. O radialista Pedro Geraldo Costa da Rádio Nacional de SP organizou uma chuva de pétalas de rosas, num espetáculo grandioso e divino.
Mão erguida para o alto, chegou a hora da sua benção, o que era uma despedida. Sua voz rouca e forte ecoou não somente para Tambaú, mas chegou até os quatro mundos. Mesmo não podendo estar fisicamente com as pessoas, sua benção continuou a tocar as pessoas.

Do céu, os tecos-tecos derramaram uma chuva de pétalas que atingia todos daquela praça dos milagres, rosas no céu e milagres aconteciam na terra.
O vigário não podia mais estar perto do seu povo querido, mas ele disse nas nove e vinte horas que seu povo poderia pedir a sua benção que, mesmo de longe, seria atendido.
Na manhã seguinte terça-feira a pequena Tambaú estava vazia, os romeiros haviam ido embora como num passe de mágica, não tinha sujeira nas ruas, nem infecções o povo ouviu a voz do seu vigário, a cidade voltava ao seu “ normal”, seis anos depois o Beato Donizetti fechava seus olhos nesta terra e abrirá junto de Deus.
Os romeiros nunca deixaram de estar aqui na cidade, nunca abandonam o vigário e, por sua vez, o vigário nunca abandonou seu rebanho.